quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Horas sem Ela

O carro estava ligado. Todo mundo já tinha entrado. Metro por metro, ele estava se distanciando. Indo embora para voltar não sei mais quando. E Ela estava dentro. O vidro escuro impedia de se enxergar de fora para dentro. Mas havia um espectro de uma cabeça com os cabelos caídos até os ombros. Será que Ela estaria olhando? Estaria sorrindo? Estaria nem aí? As dúvidas eram muitas. A ansiedade parecia estar pior do que antes. Mas as perguntas mais freqüentes eram: “quando A verei de novo?” “Ela quer me ver de novo?”
Essa era a pior hora, ou melhor, ele estava entrando nas piores horas: as horas sem Ela. Nenhum meio de comunicação que ligava a Ela estaria disponível nos próximos cinco dias. Ele não A veria e nem A ouviria pelos próximos dias. Cinco dias. Mas ele estava olhando, ou tentando olhar para Ela através dos vidros do carro. Algum vislumbre, qualquer imagem que durante os próximos dias estaria na mente até vê-lA de novo. Como um camelo que bebe para passar dias sem beber de novo, lá estava ele arregalando os olhos para tentar captar algum contato com a luz dos olhos Dela.
Nada. Ela parecia imóvel. Provável que estaria olhando para ele, e esta probabilidade que o fez manter uma pequena chama de alegria acessa. O carro continuou se distanciando. A esquina estava próxima. Deu a seta para virar à esquerda. Os milésimos de segundos que se seguiram motivaram um pouco mais o garoto: ele conseguiu ver Ela acenando, um tchauzinho que indicou várias coisas como: “Ela estava olhando para mim!”
Pronto. Havia começado às 110 horas de... Horas sem Ela.